06 maio 2009

Diário de Bordo nº 05052009

Hoje pousamos em um planeta bem diferente. Chamado de Centro de Goiânia. Não foi a primeira vez que passamos por este planetinha único. Mas é sempre uma experiência única ver como esse lugar se movimenta ao longo dos anos. Goiânia foi uma cidade planejada por Attílio Corrêa Lima no final da década de trinta. A maioria dos prédios foi construída no estilo art decó. Prédios pequenos, pouco imponentes, mas de uma riqueza singular. Essas são as luminárias de um prédio do centro chamado Paternon Center. Quer mais?




Nesse passeio contei com a ajuda de uma guia bem experiente. Adrix fez questão de me mostrar alguns cantinhos bem interessantes. E aos poucos fomos descobrindo um pouquinho mais de Goiânia. Lugares novos e lugares não tão novos assim. Na foto, Adriana, minha guia, e ao fundo a Avenida Goiás. Restaurada recentemente. A principal avenida do Centro Histórico.



Essa avenida liga o Centro Administrativo à Estação Ferroviária. No início, Goiânia era só isso. Hoje tem mais de um milhão e trezentos mil habitantes. E durante muito tempo eu fui um deles.



É bom andar por essa cidade. Fiz isso tantas vezes. Mas hoje tem um significado diferente. Ser turista na sua própria cidade. Redescobrir os seus movimentos particulares, as particularidades dos seus moradores, da sua gente. Lugares que foram e ainda são importantes para uma das capitais mais verdes do planeta.





Desta vez não passamos por pontos turísticos. Queria absorver a cidade. Aquela que me acolheu durante vinte e nove anos de vida. Aquelas ruas estreitas, sujas, mal cuidadas, mas cheias de histórias. Estava definitivamente na minha cidade, no meu planetinha. Uma viagem no tempo. Jargões são sempre bem vindos para reforçar desabafos. Estar em Goiânia é conhecer um pouco da história do país que cresceu em direção ao centro. É ver o ensaio do que acabou na Capital Federal, Brasília. Antes de Juscelino e o Distrito Federal, tivemos Pedro Ludovico e a transferência da capital da Cidade de Goiás para a planejada Goiânia. Tudo começou aqui. Com o tamanho que os Goianos poderiam dar. Com aquele tamanho caipira de quem já estava cansado de mandar seu ouro para outros estados. E por falar nisso, aí está ele: o Anhanguera. Na praça do Bandeirante.




A praça não existe mais. Mas ainda é ponto de referência no centro da cidade. O Bandeirante está lá. Ganhou um pedestal e fica de olho no movimento. Símbolo do explorador, conquistador, usurpador... E hoje está no centro da Capital.



Engraçado isso. Mas ajuda a explicar um pouco da nossa cultura de oprimido. Talvez por isso o que vem de fora, para nós sempre chamou mais a a tenção.
Talvez por isso, muitos de nós tiveram que sair daqui para depois voltar e ganhar um pouco de visibilidade.
Afinal, quem vem da 'capitar' é sempre melhor.
Bobagem histórica.
Sentado à mesa da cozinha, enquanto a minha mãe prepara um lagarto recheado, meu pai ouve música setaneja - da boa - no som lá de fora, o joão de barro canta enloquecidamente no pé de manga no quintal do vizinho, o sol entra pela janela, um céu azul, fico pensando:
Mal sabem eles que esse lugar é cheio de delícias. Me alegro de conhecer pessoas que reconhecem o valor dessa terrinha. Desse planetinha perdido no planalto central. Seus cantores à moda de viola. Seus artistas estranhos e malucos, suas poetisas velhinhas e rabugentas, suas casas antigas, pobres e coloniais... Seus prazeres gastronômicos. Uma delícia. Uma homenagem.

2 comentários:

Adrix disse...

Como sempre uma delícia seu texto..uma homenagem conjunta, ora pois, à cidade menina (como diria minha Avó...Dona Armênia...autora do livro A Saga dos Pioneiros, que vou te dar de presente um dia desses...pode cobrar...rs!)...obrigada pela carona no passeio de turista perdido no Centro...lindo!

Anônimo disse...

Faz tanto tempo que não via a cidade onde moro tão nua...É um olhar diferente... Lendo seu texto me deparei com essa descoberta. Becos, ruas, praças, monumentos, contradições... Mas é bela. Foi a cidade que por acaso, um delicioso acaso, conheci você. Figura memoravél que faz parte da minha história. Bjos!!!