O que eu tenho que te dar é muito mais do que isso. Hoje lavei o pijama e resgatei a bolsa do banco de trás do carro. Mas isso nem precisava ser entregue. É pouco demais... Dois Cds, uma calça e um pijama... Não. Não é isso que precisa ser entregue.
Vamos rasgar nossas caras. Nosso peito.
E lá no fundo, talvez, a gente ache o que realmente precisa ser devolvido. Ou não queremos mais ter de volta. Presentes são bem vindos nessa hora...
Lembranças...
Pra não esquecermos do que fomos capazes. E as lembranças se misturam. Bela mistura. As despedidas são sempre iguais...
Coisas de um lugar temporariamente instaladas em outro endereço... O que muda?
A quantidade de coisas deslocadas... de endereço.
A dificuldade de movê-las e a resistência em tirá-las do lugar.
A resistência...
Não vou devolver boa parte do que peguei de você... São coisas que me fizeram muito bem.
Egoismo é uma novidade pra mim.
Não vou devolver porque não é preciso.
Nessa hora nada é preciso.
Precisamos de pouca coisa. Mas assumo... precisamos... Um pouco de cerveja para enganar o tempo real. E me entregar a um tempo qualquer... Aprender as dores dos fragmentos da realidade. E saber dar de cara com eles e me sustentar. Em pé diante da situação... Ou da oposição. Rever histórias comuns e ver que pessoas são capazes de seguir seus caminhos traçados com agilidade voraz...
Voraz...
Voracidade...
E a emoção se vai...
Meu texto fica frio.
Assim como eu.
Frio.
Cheio de razões. estranhas razões...
Cheio de vida e de compreensão. A frieza é o excesso de compreensão. Odeio escrever textos frios.
Estou longe neste momento.
E talvez um dia esteja mais próximo de coisas simples. Como eu sempre gostei.
Preciso de um pouco de silêncio.
Só preciso. De alguma resposta.
Nessas horas as respostas precisam surgir bem à nossa frente. Caso contrário serão ignoradas solenemente. Como ignoro o meu sono, a minha vontade, a minha dor... a minha vida... Eu.
Meus cabelos cresceram... Hoje de manhã... Caíram na pia do banheiro.
Estou habitando o ralo. Aquele que não transborda mais... Aprendeu a ficar nos limites...
Ontem choveu... e tomei um banho de chuva.
Como quando era criança...
E me lavei...
Da Augusta à Consolação. Me lavei da Augusta à Consolação. E cheguei em casa tão desconsolado.
Minhas lágrimas foram embora com a chuva...
Pelos ralos da Paulista. O pior lugar para lágrimas.
Meu texto está sem vida... Seco demais para ser digno de ser escrito...
Áspero demais para pertencer a mim. Que sempre tentei ser tão suave. As coisas estão ásperas demais.
Seco... Como o meu copo...
Como o meu corpo... Meu espírito. Esvaído. Consumido. Silenciado.
Agora... Lento.
Mais lento.
Era para ser uma dedicatória...
Virou lamento.
Como tudo... Como sempre... Para sempre...
Como tantos lamentos.
Um pouco de silêncio.
Um comentário:
Oque eu precisava que fosse devolvido não foi!
A Crença - queria acreditar que as pessoas são diferentes, mas não são.
A vontade - queria ter vontade de fazer um monte de coisas, mas não tenho mais.
O amor - próprio, ou em outro ser,,,puts esse realmente é oque não pode ser devolvido, porque ele é dado sem intenção de troco. Se é na dose certa, ou em grandes quantidades, temos que aprender apenas a receber, e dar conforme nos for melhor.
Os nossos dias nós mesmos escrevemos, um roteiro de filme que o final decidimos nós, se vai ser feliz ou triste! Uns preferem finais tristes, outros felizes...vc decide.
Só uma coisa me foi devolvida, a certeza que oque é muito bom não é pra mim, fica pros outros, e isso não é um papel de uma mocinha frágil e indefeza de um filme de faroeste, nem quero irritar ninguem me fazendo de vítima, é a minha realidade, que a cada dia se mostra mais e mais cruel!
Estou aprendendo, vou me conformar, mas sempre que eu achar uma moeda de ouro, vou deixa-lá no mesmo lugar, porque se eu tira ela de lá sei que vai virar pó, na minha mão sempre vira!
Quem sabe alguém tem mais sorte que eu, acha essa moeda, deposíta numa conta, e colhe os frutos do rendimento...deixa ela lá, não era pra mim!
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