23 setembro 2009

AOS POUCOS...

A casa velha de dois andares.
A garagem de cerâmica vermelha.
Grande aos olhos de uma pequena criança.
A cadeira de ferro. A vitrola. E um vinil.
Até hoje, uma música misteriosa me fazia lembrar uma parte boa da infância.
Mas não conseguia lembrar o nome. Nem tampouco quem cantava.
Só sabia que era uma das canções preferidas do meu avô.
Ao som da vitrola cresci vendo ele e a minha avó deslizarem pela garagem.
Era um tango.
Sofrido, mas delicado.
As reuniões em família quase sempre terminavam em discussão.
Na maioria das vezes.
Quando o pau começava a quebrar, minha mãe corria e desligava a vitrola. Salvava os velhos vinis da ira familiar.
Mas o clima melodramático continuava no ar.
Por vezes a minha avó simulava desmaios para acalmar os ânimos. Mas era tarde demais para retornar aos vinis.
Hoje acordei com uma saudade danada daqueles tempos.
E recebi um presente.
Lá do fundo veio um pequeno trecho da música que o meu avô adorava.
Aos poucos lembrei um pequeno trecho.
O suficiente para resgatá-la por inteiro.

VERMELHO 27 - NELSON GONÇALVES

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