10 setembro 2008

Matou os pais, comeu a terapeuta e abriu um blog...


Era mais uma tarde como todas as outras.
Final de trabalho.
Matéria decupada, encaminhada para o dia seguinte.
Momento de descontração... quando me veio uma idéia - a velha idéia de sempre: PORQUE NÃO CRIAR UM BLOG PRA MIM?.
Um lugar onde eu pudesse registrar meus momentos de devaneio literário, minhas frustrações, meus desejos, meus deleites e minhas revoltas...
Foi um rompante... como quase todas as coisas boas que já fiz na minha vida. Rompantes impensados.
Pari o meu blog com a ajuda das mãos hábeis do Chico e sob os olhares atenciosos do Bruno e da Denise.
Deixei meu primeiro recado e fui pra casa.
No metrô pensei em todas as possibilidades. As fotos e as histórias que gostaria de compartilhar com o universo.
Astronautas internautas.
Foi aí que tive o primeiro medo.
Medo de recém nascido.
De recém chegado.
Recém parido.
Congelei na estação Santa Cecília.
De repente senti os olhos do mundo sobre mim. Da versão eletrônica de mim.
E isso não era bom.
Nunca foi bom.
Sete anos de terapia e ser o centro das atenções – “da minha atenção” ainda era complicado.
Como escrever para um universo de desconhecidos?
E se dissesse algo errado?
Algo que alguém em algum lugar discordasse?
Olhos foram se aproximando de mim...
Cada vez mais perto.
Sufocado pelos olhares até a Sé... Minha estação preferida.
Tanta gente. Tantos estranhos. Era isso. Tantos estranhos que não se ouvem. Mal se enxergam. E agora temos a possibilidade de mudar isso. Ou melhor, agora eu tenho a possibilidade de fazer isso.
Pouco a pouco fui encarando os olhos. E embarquei rumo ao Jabaquara. Estava só, na linha norte e sul. E me lembrei de quando voltava só, pra casa, em Goiânia, no Eixo Norte- Sul.
Os mesmos olhares.
Mas era necessário colocar pra fora. A criança do cala boca – falou pela primeira vez.
E eu ouvi...
Não precisava mais de mãos másculas para me guiar.
Aprendi a andar. E andei tanto... que aprendi a gostar dos meus próprios passos.
Lentos, dosados, gozados, mas firmes.
Já tropecei tanto que mais um não seria novidade. Apenas a confirmação de que é preciso seguir em frente.
Os olhos foram desaparecendo aos poucos. Era necessário enfrentá-los. Como sempre. Apenas enfrentá-los.
Estava no Paraíso.
Quase em casa.
E quase com a certeza do que iria escrever naquela noite.
Mais algumas estações...
Percebi que tinha que esquecer a perseguição. Afinal de contas os perseguidores já me esqueceram.
Casaram, tiveram filhos e aprenderam suas próprias lições...
Hoje até escrevem em blogs...
Sobem em palcos.
Porque eu não iria fazer o mesmo?
Ah, estava cada vez mais encorajado a construir o meu próprio palco eletrônico. Até chegar ao símbolo máximo da cultura paulistana... A gota final da viagem de volta pra casa...
O MASP.
Celeiro dos grandes mestres.
Pensei: se eles tivessem tido vergonha não estariam imortalizados ali dentro. Não teriam enfrentado o novo, os olhares e as divergências. Desci a Paulista com ar de Semana de Arte Moderna. A cabeça fervilhava de novas histórias. Cheirava o cheirinho de paulicéia. Buscava inspiração numa cidade que transpira motivos...
O melhor de todos... Eu mesmo.
Engoli a saliva... Respirei fundo... Cheguei em casa...
Estava pronto...
Mas ainda com medo...
Só uma semana depois me debulhei em inspiração.
Feliz.
Realizado.
Apavorado.
Maravilhado.