26 julho 2010

AMANHECER


Me lembro perfeitamente da primeira vez que vi o dia amanhecer.
Foi no Novo Horizonte - um bairro da periferia de Goiânia. Eu devia ter uns cinco anos ou menos. Estava numa festa com os meus pais. Por alguns instantes eles esqueceram de mim e da hora de ir pra casa.
E o dia amanheceu.
Lembro, como se fosse hoje, que o amanhecer parecia o desvendar de um mistério.
Ver a noite virar dia bem diante dos meus olhos.
Uma aventura.
Fiquei por um tempo olhando para o céu.
Ver o azul escuro se transformar em cinza e o cinza em azul...
No fim de semana, vi esse milagre acontecer mais uma vez diante de mim.
Olhos mais vividos. Bem mais velho do que naquele dia, no interior do Brasil.
Mas a magia continuava a mesma. O mistério se desfazendo acima de mim.
Voltei a ter a energia dos cinco anos.
E a vida voltou a ser simples como era antes.
Acho que minha noite também virou dia... mandou a gripe embora... as dores na alma... e os medos.
Agora, que venha o sol!

11 julho 2010

Encapsulado

Sentado na pequena sala.
Sensação estranha.
Estreito demais.
Cheiro de cigarro e incenso.
Música.
Álcool.
E desespero.
Volume no máximo.
É o máximo de mim.
Foi o máximo.
Sempre gostei de testar os meus limites.
E a vida sempre gostou de me testar. Eu sei que você sempre gostou.
Sempre me achei bom(zinho).
E a vida me fez o favor de colocar momentos de grande maldade.
Será que é verdade?
Às vezes, bem às vezes quero crer que sim.
Estou cercado.
Me cerquei.
Tantas vozes.
Tantos desejos.
Tantos sussurros.
Todos dentro da minha cabeça.
Dançando ao som das minhas velhas músicas. Mais uma contração...
Como dói parir idéias.
Medo de trincar o espelho. Já trincado.
De ficar com a geladeira vazia.
De tocar a música errada.
De estar errado.
E ter a certeza que que o certo está tão perto.
Hoje descobri um dom. Uma especie de poder. Super poder.
O de me encapsular...
Virei meu próprio comprimido. Cápsula plástica.
Transparente.
E o mundo lá fora.
Estou protegido. Até quando?
E quanto isso irá me custar.
Podem gritar... Gritem a vontade.
Vocês não me incomodam mais.
Os sons nunca me incomodaram.
Mas, por favor, parem de gritar dentro de mim.
Alma atormentada.
Intenso demais para sobreviver a mim mesmo. Levem um pouco de mim quando forem embora... da minha casa.
Estou dentro da capsula.
Vendo a vida embaçada.
Sons embaçados.
Meu suor embaçando minha própria visão.
Overdose do meu cheiro.
Plástico roçando a minha pele.
Palavras soltas.
Meu varal estendido. Desta vez tão sem sentido.
Damas em primeiro lugar.
E os cavalheiros que se danem. Que esperem seus cavaleiros...
Cavaletes... E uma tela...
Sem coragem para pintar. Sem coragem.
Coragem apenas para dizer que sou...
Sou tão...ENCAPSULADO...