29 abril 2009

Matando saudade do silêncio...



De volta a Caldas Novas - Goiás. Um dos lugares mais bonitos do estado. Ao fundo a Serra de Caldas. Parque Estadual da Serra de Caldas...
Um pouco de verde, silêncio e carinho...



22 abril 2009

Frag...momentos...

À noite em casa...
Sob a luz vermelha do abajour vermelho...



Coisas começaram a acontecer...
A se mover...
Dançarinos tomaram conta da minha parede...




Mistério...
Gosto deles...

15 abril 2009

A difícil escolha de escrever sobre a saudade...

Em casa... Depois de uma noite agradável. Cinema, pipocas, boa companhia. Cerveja gelada ao lado do computador. Estamos alimentados. Mas o corpo sente falta de algo. Antes de dormir me deparo com o vazio. Falta um cheiro. O incenso não é suficiente para me fazer dormir. Me falta o cheiro da cumplicidade de todas as noites. Da inspiração de todos os dias. Da expiração. Me resta a difícil escolha de falar sobre a saudade. É como se tivessem me tirado algo muito importante. Na verdade me tiraram. Sabe quando falta aquela frase incrível que define absolutamente tudo o que sentimos? Essa é a diferença entre grandes e medíocres escritores. O poder do resumo de grandes pensamentos. Não consigo resumir a saudade. Talvez porque a saudade seja algo que nunca se possa resumir porque está carregada de muitas histórias. E, de tão importantes, essas histórias não permitem que sejam resumidas. Eu não permito que elas sejam resumidas. Mais um gole de cerveja... Gelada... Mas a alma ainda está quente. Estamos condenados a saudade. Saudade da infância, daquelas loucuras da adolescência quando acreditávamos que podíamos tudo e um pouco mais. Saudades dos velhos e bons amigos que se perderam ao longo da nossa caminhada. Saudades dos parentes. Saudades do meu avô que foi embora tão cedo e me deixou tantas lembranças... Saudade do Chil... Nome estranho de um grande amigo que hoje nem sequer lembra de quantas vezes discutimos a importância de Platão nas nossas vidas. Saudade seria um vazio? Aquele vazio que temos a certeza que não será mais preenchido nunca mais. Não daquele jeito. Não daquela forma. Saudade é a irmã boa do passado e a irmã má do futuro? Será? Estou sentindo saudades. De tempos que não voltam mais. Não porque não existem mais, mas porque se foram. Não estão mais conosco. E isso dá saudade. Saudade de quando sentava no canto do pátio do San Damiano. Ficava ao longe assistindo o recreio. E tudo parecia que nunca passaria daquelas grades. Depois passei a freqüentar as muretas da escola. Uma grande promoção para o mais mais tímido e reprimido da turma. A mureta continua no mesmo lugar. Mas mesmo que fosse tele transportado para lá não mataria a saudade daquele tempo. A saudade está na distância das coisas que foram feitas e não feitas. Ditas e não ditas... Sentidas e não sentidas. O gole de hoje nunca mais será o mesmo... É o único. Sempre será o único. E isso não é novo. Não há aqui nenhuma constatação brilhante da natureza. Apenas um lamento de saudade. A saudade dói às vezes. É como um sapato apertado. Sempre diz que está lá. E quando a gente insiste em continuar em frente aumenta a cada passo. Até a gente parar e afrouxar o cadarço. Às vezes sem sucesso. Mas ganhamos um minuto de alívio. Até comprar um sapato novo. Mas sapatos novos também apertam. E eu adoro meus sapatos velhos. São sempre os mais confortáveis. Macios... Acolhedores... Carinhosos com os meus pés... Eu sempre gostei dos meus sapatos velhos... Estavam comigo ao longo da caminhada. Sinto saudade deles. Lembro de um tênis de escola. Não tirava-o dos pés... Até que descolou... Impossível reformá-lo. Bem que tentamos. Mas impossível reformá-lo. A saudade também é como um tênis velho e deformado. Impossível de reformá-la. Se foi e pronto. Precisamos nos conformar. A morte nos trás saudade. E sempre vai trazer. Precisamos nos conformar. Os mortos vivos também nos trazem saudades. E estes são os piores porque não se foram de verdade. Estão por aí respirando o mesmo ar que a gente. O mesmo ar que eu. E agora respiro fundo. Sinto o mesmo ar que você nesse momento. E me sinto próximo. Um pouco mais feliz. Um pouco menos triste. Um pouco menos só. A saudade ocupa a vida dos solitários. Que não sabem como ocupar o tempo que sobra. É uma reunião de passados... Que insistem em fazer parte do presente. É uma festa à fantasia... Uma deliciosa festa à fantasia... Que passa da hora de acabar. E fica chata. Mais um gole. Mais uma música. Alimento bem a minha saudade. Não preciso das fotos antigas. As principais estão aqui na minha mente. A saudade é um grande álbum de fotografias. Em movimento constante. Forma de exibição aleatória. Fora do nosso controle. Sem meias palavras. Viva os saudosos. Eles são felizes porque desistiram de lutar contra essa praga. Eles têm a razão. Estou com saudades. Estou deformado pela saudade. Estou inspirado pela saudade. Tomado pela saudade. Tomando goles de saudade. A saudade embriaga se em excesso. E vicia se usada sem controle. Provoca um torpor incontrolável. Tem efeitos de soro da verdade. Soro da saudade. Estou pronto para dizer como estou movido pela saudade. Quase uma relação de desespero entre mim e a saudade. Meu pequeno apartamento vazio está cheio de saudade. Vou abrir a porta e deixá-los entrar. Vamos dar uma festa para comemorar a existência de todos vocês. Não! Melhor! Vamos comemorar a minha existência. Afinal de contas a saudade é minha. Eu sinto saudades de mim. Daquele menino tímido... Com medo de falar em público... Que acreditava que uma nave espacial o levaria de volta pra casa. Saudade da pureza (não a do Anísio, nem a em forma de grãos). Saudade de um tempo em que acreditava nas coisas. E as coisas acreditavam em mim. A primeira viagem de avião... O primeiro tomate cereja... Roubar balinhas nas Lojas Americanas (quando as balinhas eram vendidas por peso nas Lojas Americanas). Andar de escada rolante (quando a única escada rolante de Goiânia ficava nas Lojas Americanas). Saudade do limão com açúcar que o meu pai me dava depois de tomar a caipirinha... Saudades da mesinha de madeira vermelha... Pés de ferro. Hoje custa uma fortuna. Assim como a minha saudade disso tudo. Saudades do seu Euzébio, meu avô, que me deixou o seu Osmar, meu pai... Que me deixou o sobrenome Silvério, que me deixou um relógio... que não conta mais o tempo dos homens, porque está em outro tempo. Que me ensinou a chorar de verdade quando tinha apenas cinco anos. E quando me mostrou pela primeira vez o que era sentir saudades... Mal sabia eu, que a sentiria tantas outras vezes ao longo da vida. Foi uma boa lição. Saudade da simplicidade de Leopoldo de Bulhões... Nunca dei nada por aquele lugar. Hoje, sinto saudade de tantas coisas. O inocente banho de bacia no chão da cozinha. O medo do banheiro de buraco. O tanque de madeira... Todo coberto pelo lodo... Os pés de mandioca... O milharal... Ah, as pamonhas. Aquele medo terrível de que o meu pai, que ralava o milho, machucasse as mãos. Ralo entre as pernas... Movimentos certeiros. Gente reunida. O barulho do milho passando na lata... O caldo caindo na panela de ferro. A pamonha de doce... Saudades dos cheiros que senti ao longo da vida. E que insistem em aparecer nas horas mais inusitadas. Saudades da Tia Márcia. Que me ensinou a brincadeira do vivo ou morto. E que morreu antes de eu aprender o significado da morte. Saudade do Richardson... Meu primeiro “coleguinha”. Ele tinha uma pinta na testa. Nunca vou esquecer disso. Me ensinou a usar o primeiro computador. O dele. Porque o meu primeiro computador só viria quase vinte e cinco anos depois. Saudades da primeira Patrícia que entrou na minha vida. Evangélica, assistiu Dirty Dancing oito vezes. Era pobre de fazer dó. Mas tinha uma felicidade que só os evangélicos fervorosos conseguem ter. Hoje estou tomado de saudade ao ponto de querer chorar por isso tudo. Saudade de me sentir inteiro. Saudade apenas. Acho que é isso. A saudade é saudável. Nos coloca no eixo novamente. É como uma guia que nos diz o caminho a seguir. Nos faz um rápido relato do que fomos e do que queremos ser. E nos coloca no eixo. É isso. É o objetivo da saudade. Não nos deixar esquecer de quem somos de verdade. Daqueles que amamos de verdade... Dos realmente importantes pra gente. Para o bem ou para o mal. Saudade sem limites. Saudade é saudável. Saudade é saúde... É vida... É sina de vida...