21 dezembro 2009

Fim de semana na caverna...



As mudanças climáticas chegaram à minha casa e me trouxeram de presente um resfriado. Daqueles que o corpo fica mole o nariz parece mais um chafariz. A garganta fica irritada e o peito chiando.
Meu fim de semana praticamente se resumiu em abraçar o travesseiro, consumir lenços e lenços de papel, aprender a tomar chá de hortelã e dormir...
Aí eu passei vick vaporub e melhorei...
E não é que no domingo à tarde cheguei a conclusão de que foi um ótimo fim de semana.
Meu corpo mais uma vez, me deu uma lição. Era hora de parar um pouco. Limpar a casa e curtir o meu espaço. Levantei, tomei um banho quente e fiz um belo almoço de domingo. Taça de vinho branco. Pasta com molho de cogumelos e um pouco de samba. Depois de tudo o sofá foi testemunha da minha preguiça. O dia estava lindo. Mas a minha casa estava mais linda ainda.
Foi uma delícia.

17 dezembro 2009

O SEGREDO DE NÁ OZZETTI



Terça-feira foi dia de amigo secreto entre os colegas "do serviço". Nunca fui muito de amigo secreto. Me lembrava uma fase ruim da infância. Sem muito dinheiro, o presente de amigo secreto - quando eu participava do amigo secreto - era sempre algo que eu não queria dar de presente. Era o que o dinheiro dava para dar de presente. Com o tempo acabei deixando esse "regalo" de fim de ano de lado. E as lembranças ficaram guardadas com ele. Este ano um sapatinho de papai Noel recheado de nominhos misteriosos apareceu na minha frente. Foi um ato quase sem pensar. Sorteei minha sorte de participar desse misterioso evento.
Tivemos pouco tempo para descobrir os desejos secretos do amigo misterioso. Decidi optar pela intuição. Afinal, queria deixar minha secreta amiga bem feliz. Não percebi e quando vi deixei para comprar o presente na última hora. Mas foi bem escolhido.
Banho tomado, roupa limpa... Barba aparada, sacola nas mãos. Estava pronto para o evento. Muito barulho. Muita gente. E a euforia de descobrir os segredos dos secretos amigos. Um a um eles foram se revelando. Entre gritos e papéis de presente eles iam se revelando. E um pouco dos seus mistérios também. Minha vez chegou... Revelei e como sempre fui revelado. Fui amigo, mas me mantive secreto. Muito barulho para revelar todos os mistérios daquela noite.
Fui surpreendido por um presente especialmente preparado para mim. Daquele que só os criativos conseguem elaborar. Um mimo delicioso.
Voltei pra casa com uma caixa de presente contendo doze latinhas de Bohemia e um CD da Ná Ozzetti. As latinhas estão na geladeira. O Cd não sai do aparelho de som... E meus segredos se acalmaram depois do amigo secreto deste 2009.

09 dezembro 2009

UMA MÚSICA PARA A HISTÓRIA...



Dia 31 de dezembro completa 10 anos que conheci o casal mais fofo do mundo. Marcos Simão e Adriana Adrix. Foi no Reveillon de 1999. Quando a gente achava que tudo poderia mudar. A festa durou três dias. Preparativos - Evento - E ressaca. Simão partiu antes do nosso aniversário. Mas essa música vai ser especial para sempre. A mais tocada naquele reveillon especial... E imortalizada em quase todos os nossos encontros seguintes...

UM NOVO COMEÇAR...



Acordei com a morte no meu telefone.
No começo não consegui reconhecer o seu tom de voz.
Mas ela foi implacável. Fria.
E me levou um pedacinho da minha história. O susto foi tão grande.
Daqueles que a gente nunca sabe a hora exata que vai acontecer. Parece que a morte fica a espreita do destino. E quando a gente menos percebe ela te abocanha. De salto. De susto.
Hoje ela pulou na minha frente.
Vestida de branco.
Nada ameaçadora.
Como um morador de rua que se joga em cima da gente no centro da cidade.
Me derrubou no chão.
Arrancou a minha mochila.
Vasculhou e tirou um amigo lá de dentro.
E foi embora. Me deixando jogado na calçada.
Sacola aberta.
Vasculhada.
Sem permissão.
A morte é um assalto.
Chega de assalto.
E age com uma violência branda. E leva aquilo que não poderia ser levado nunca.
Hoje a dona morte me levou um grande amigo. Não posso reclamar dela. Ela tem sido gentil comigo. Tem me dado tempo para aprender a despedir das pessoas.
Me deu tempo de despedir do Simão.
Mas não de aprender... apreender a sua história.
Daquelas histórias longas que a gente nem percebe que passou. Só vai ficando longa. Rica demais. E hoje a morte me tomou ele. E me deixou na Consolação tão desconsolado.
O Simão lutava contra um câncer havia dois anos. Foi forte demais para essa briga. Mas de força ele entendia muito bem. Sempre foi guerreiro. Um belo guerreiro. Corpo de lutador e alma de mestre. Tão sensível que chegava a doer.
A incomodar.
Por várias vezes deixei ele pra trás por não aguentar tanta serenidade.
E hoje a minha dose de serenidade foi arrancada da minha mochila.
Da minha vida.
Nesses dois anos consegui rever o Simão algumas vezes. Ele em Goiânia e eu aqui em São Paulo. A distância fez a nossa relação crescer de forma especial. De certa forma a gente aprendeu a se cuidar em silêncio. Acho que ele até mais do que eu.
No nosso último encontro.
Em Goiânia.
O Simão já apresentava as marcas dessa guerra injusta contra um inimigo implacável.
Mais uma vez estava sereno demais. Queria que tivesse gritado. Tomado um porre junto comigo. Mas estava sereno demais.
Passou a noite sentado na cadeira de ferro.
Cordas verdes.
Moleton largo. Olhos grandes e fundos. Opacos demais para quem adorava a vida.
Sob a parreira, cheia de folhas verdes, passamos boa parte da noite. Ele, em silêncio, ouvindo apenas os amigos contarem as suas histórias.
Eu estava de férias.
Contei minhas maluquices na esperança que ele entendesse que valia a pena lutar para ter um pouco mais de vida.
Um sopro que fosse.
Na despedida ele me abraçou...
Devagar.
Fraco.
E saiu caminhando lento rumo ao portão. A sacola à tira colo, parecia enorme naquele corpo franzino.
Minha última recordação do Simão é ele caminhando em direção ao portão.
Mãos dadas com a Adriana.
Um caminho longo.
Um portão de ferro antigo.
Uma árvore com flores vermelhas.
Ele foi embora porque queria ter uma noite de sono em casa, depois de tanto tempo no hospital. Voltei pra minha casa com a sensação de que aquela poderia ser a última imagem de alguém que havia se tornado tão especial pra mim.
E hoje o medo daquela noite se tornou real.
Não verei mais o meu amigo de tantos anos.
Me resta sentar na pequena mesa da cozinha, vidro trincado. Copo de chá gelado... Roupa suja na área de serviço... E escrever memórias emocionadas de um trecho de nossas vidas.
Trecho que tem hora certa para acabar.
Sete horas da noite será o enterro.
Mais um guerreiro se vai. Assim como tantos outros.
E eu, sozinho na Consolação com aquela estranha sensação de perda.
Não há como ligar para operadora e pedir um novo Simão.
Trocar nossos endereços.
Cancelar o cartão que foi roubado.
Esse assalto foi pra valer.
Estou sentado na Consolação. Ouvindo a vida passar. E sentindo a vida me deixar.
As mãos frias da morte vasculharam meu bolso hoje de manhã. E levaram pertences de valor inestimável. Guardados com tanto carinho.
Não consigo lembrar se me despedi dele como gostaria de ter feito.
Não me lembro se disse tudo aquilo que gostaria ter dito.
Só me lembro que há um ano, mais ou menos, quando o Simão terminou a primeira fase do tratamento, ele esteve em São Paulo.
Eu estava passando por uma fase ruim.
Mudei de casa.
Minha vida estava em plena transformação.
A dele também...
Passamos horas deitados na cama do hotel (eu, Simão e Adriana). Rimos da vida. Da minha desgraça. Criamos um mundo: a Sofrelândia... Eu morava lá. E o Simão queria que eu me mudasse urgentemente.
Saia já da sofrelândia, seu sofridinho, dizia ele.
Naquele dia, ele voltou a sentir dores no peito.
Estava arrumando as malas pra voltar pra casa.
Na despedida, me abraçou, me entregou um cartão e disse:

“Juninho, ganhei isso de uma grande amiga. Assim que iniciei o tratamento contra o linfoma. Me ajudou muito. Eu já aprendi a lição. Agora quero que você aprenda essa lição também.”

Me entregou o cartão.
Nos abraçamos.
Chorei e não quis me despedir.
Hoje, mexendo em minhas coisas. Na pasta onde guardo os documentos do novo apartamento. Olhos molhados de lágrimas, achei o presente que ele me deu.
Um pequeno cartão.
Limpei o rosto.
Contive os soluços e pude ler o recado que ele me deixou:

“FAÇA DE TUDO PARA LEVAR FELICIDADE ÀS OUTRAS PESSOAS E PRINCIPALMENTE LEVAR A FELICIDADE A VOCÊ MESMO.”

Obrigado Simão.
Descanse em paz.















Maria no quartel

Isso foi um sonho, mas bem poderia ser real. Qualquer semelhança com personagens e fatos reais terá sido completamente proposital.

Era uma longa fila... Uma longa fila de jovens. O cenário... Um quartel do exército. Jovens numa espécie de alistamento. Cada um carregando apenas as suas expectativas. E medos também. Um a um o uniforme era entregue. Em seguida se formava uma imensa fila verde. Estavam prontos para o seu destino. Minha hora se aproximava. Era a minha vez de pegar o amontoado de tecido verde musgo e selar para sempre o meu destino. Não tenho a mínima idéia para onde iria e nem de onde havia saído tantos voluntários. Mas, definitivamente estava numa fila e ela, obviamente me levava para algum lugar. Sabe lá Deus para onde. Finalmente o tecido verde encontrou meus braços. Pesado demais para ser vestido de uma vez só. Armadura disfarçada de uniforme. Minha primeira reação. Dar uma olhada no tamanho. “P”. Não me contive.
“P” é pequeno demais pra mim, senhor!
Não me diga, disse o cara que parecia comandar a fila. Apenas parecia. Em sonhos não podemos confiar muito nos personagens.
Acho que preciso de algo maior, senhor.
Então, fala direito, disse abrindo um sorriso no canto do lábio rodeado por uma barba bem feita.
Como assim?
Fala mais rápido! Que preguiça é essa?
Eu só quero um uniforme maior, senhor! Disse, tentando acelerar as palavras. E não desafinar na frente do pelotão.

Acho que não funcionou. Não me lembro se ganhei ou não o uniforme em tamanho maior. Não importa. Sonhos são assim. As histórias não precisam ter muito sentido.

Segui em frente naquela fila. Estranha demais para tentar encontrar explicações. No meio do caminho topo com uma equipe da TV Globo. Isso mesmo. O pessoal do Jornal Hoje estava no quartel prestes a fazer uma exclusiva. Adivinhem quem estava no quartel?
Não sei.
Uma espécie de colunista cultural. Um produtor e o cara com a câmera, mais conhecido como repórter cinematográfico – é, o cinegrafista. No sonho eles me reconheceram. E eu fiquei feliz. Conversamos por um tempo. Eu, segurando o uniforme. E eles se preparando para a entrevista.
- O que que vocês fazem aqui? Perguntei meio constrangido.
Vamos fazer uma entrevista exclusiva, responderam com aquele sorriso que só tem os que chegam em primeiro lugar.
Quem poderia ser? A tal personalidade dentro do quartel?
Quer participar da entrevista? Peguntaram.
Hã!
Hein!
Como assim?
É, precisamos de alguém para tirar umas fotos da equipe, disseram, com cara de quem entrega o maior pirulito para a criança carente.
É claro que sim. Eu topo demais, disse.
Não me lembro mais onde foi parar o uniforme. Ele simplesmente desapareceu. Sonhos são bons porque não precisam de lógica nem continuidade.
Deixamos a longa fila verde para trás e seguimos para o cenário da entrevista. E lá, aos poucos foi surgindo a entrevistada.
Sentada languidamente em uma grande cadeira.
Roupa branca, bem larga.
Cabelos pretos. Longos... Bagunçados...
Pés descalços...
No quartel? Como poderia ser?
Definitivamente eu estava frente a frente com a Maria Betânia. É gente, a Maria Betânia estava no quartel.
Me olhou, ou melhor, deve ter olhado para toda a equipe, mas como o sonho era meu ela olhou primeiro pra mim. Me (nos) cumprimentou. Mantivemos uma relação por alguns instantes. Tirei algumas fotos. Muito reais para mim.
Cada enquadramento.
Cada personagem da foto.
Eu estava ao lado da Maria Betânia. E não podia tirar nenhuma foto minha com ela. Que agonia.
Todo sonho tem uma agonia. A minha era a farda verde tamanho “P” e não poder estar na foto.
Não me perguntem sobre a entrevista. Não prestei atenção. Mas sei de todos os detalhes daquele rosto. Da máquina fotográfica e dos ângulos que escolhi.
Enfim, a entrevista terminou. Deve ter sido como todas as entrevistas especias que a gente está acostumado a assistir. Mas uma coisa foi especial. A despedida.
Na saída, Maria Betânia, pegou na minha mão. E, por um instante ela não quis soltar. Ela gostou de mim. Eu puxei, naquele instinto de: me larga! Mas era a Betânia segurando a minha mão. Rolou um slow na cena. Um pouco de emoção.
Me lembro que acordei... procurando a máquina fotográfica pra ver as fotos. Voltei a dormir. Voltei a sonhar... Dei algumas explicações para o soldado chefe... E acordei. Às oito da manhã. Não consegui mais dormir.

Como todo sonho tem uma moral, fiquei pensando.
Cheguei a uma conclusão:
Preciso diminuir a cerveja.
E ouvir mais Maria Betânia.






Um pouco de história.

Estar de férias entre família é sempre engraçado. Família é uma instituição engraçada. Isso não é novidade. É a melhor maneira de entender um pouco mais como funcionamos. E releituras são sempre bem vindas. E o bom das releituras é que sempre podemos fazer coisas diferentes. Os cenários mudam com tempo assim como nós também mudamos. E ganham mais cor com o tempo. Ficam mais alegres ou mais serenos. É o tempo agindo sobre a nossa história. Mas a cerveja continua sempre a mesma. Meu pai desenvolveu a teoria das letras. No fundo da latinha existem duas letras. É a origem da água que faz parte da cerveja. E, dependendo das letras, o gosto muda... Estamos apaixonados pela J A , se for C E também é boa. Mas J C não é nada nada boa.
O sol está de matar. Ou melhor, de queimar. Meu braço esquerdo que o diga. Queimei feio durante a viagem até Caldas Novas. De volta das férias vou levar por um tempo, a lembrança dessa gostosa viagem. Sacola térmica com cerveja gelada. Tira gosto dentro do carro. Música da boa. E vento no rosto. Quase uma farofada sobre quatro rodas. Estar o tempo todo com a família tem os momento chatos. Aqueles momento em que somos tão parecidos que precisamos nos abortar. Sair sozinhos parecendo que somos únicos no mundo. Mas não somos. Temos cópias exatas ou muito parecidas de nós perambulando por aí. Com algumas coisas diferentes. Eu me tornei o integrante tecnológico da família. Tiros as fotos e depois copio para todos. E aproveito para deixar algumas aqui no blog. Depois vejo o que faço com o restante das fotos. Mas vão focar guardadas para a etérea eternidade. Neste exato momento acabamos de almoçar. Estamos no apartamento. Foram todos tirar aquele cochilo... Não consigo. O sol do cerrado me mantém em alerta. E a Bohemia J A está estupidamente gelada. Resolvi compartilhar com vocês um pouco do meu tempo. As informações não param de chegar. São várias. Mais até do que consigo publicar. Volto pra casa cheio de informações. E cheio de novidades. A internet está mega lenta. E de mega não tem nada. Mas se esta postagem foi publicada é porque eu consegui. Agora vou abrir mais uma e deixar vocês com mais uma ou duas fotos. Ah, tenho duas novas teorias. Ainda irei escrever sobre. Espero um pouco mais de inspiração. Mas elas não param de fervilhar na minha cabeça. E não se esqueçam: Eu sou uma estrela...!!!!!









Hoje é sábado?

Pousamos no Aeroporto Santa Genoveva... (Aeroporto Internacional de Goiânia – Santa Genoveva). Eu e meus trinta e quatro anos de saudade. Temperatura aproximada de 24 graus e subindo. O suor brotando na testa. As lembranças brotando na alma. Caminhamos até o desembarque. O funcionário da infraero enfia a cabeça pela esteira e grita:
Ô pessoal de São Paulo! As malas vão sair pela esteira de número três! Aquela alí ó!
Definitivamente eu estava em Goiânia.
No saguão aquela receptividade de sempre. Cartaz de boas vindas e abraços emocionados. Tão calorosos como o dia nublado... E suado. Suor é uma coisa que a gente logo relembra.
As férias estavam apenas começando.
E começaram bem...
Chegamos em casa. Cerveja gelada na geladeira. Cama arrumada. Presente sobre a cama. Carinho de graça. Vinte e quatro horas por dia.
É só o começo.
E não paro de gritar: Pai... Vem aqui. Mãe... Onde está? Gente vem aqui. Senta aqui. Pai abre mais uma... Mãe... Este feijão está uma delícia... Ainda não me acostumei com o silêncio do Atheneu. Ainda deito e me lembro da casa da luz vermelha e seus sons. Mas é apenas o começo.




01 pijama e uma bolsa...

O que eu tenho que te dar é muito mais do que isso. Hoje lavei o pijama e resgatei a bolsa do banco de trás do carro. Mas isso nem precisava ser entregue. É pouco demais... Dois Cds, uma calça e um pijama... Não. Não é isso que precisa ser entregue. Vamos rasgar nossas caras. Nosso peito. E lá no fundo, talvez, a gente ache o que realmente precisamos ter de volta. Ou não queremos mais ter de volta. Presentes são bem vindos nessa hora... Lembranças... Pra gente não esquecer do que a gente foi capaz. E as lembranças se misturam. As despedidas são sempre iguais... Coisas de um lugar temporariamente instaladas em outro endereço... O que muda? A quantidade de coisas deslocadas... de endereço. A dificuldade de movê-las e a resistência em tirá-las do lugar. Não vou devolver boa parte do que peguei de você... São coisas que me fizeram muito bem. Não vou devolver porque não é preciso. Nessa hora nada é preciso. Precisamos de piuca coisa. Um pouco de cerveja para enganar o tempo real. E me entregar a um tempo qualquer... Aprender as dores dos fragmentos da realidade. E saber dar de cara com eles e me sustentar. Em pé diante da situação... Ou da oposição. Rever histórias comuns e ver que pessoas são capazes de seguir seus caminhos traçados com agilidade voraz...
Voraz...
Voracidade...
E a emoção se vai...
Meu texto fica frio. Assim como eu. Frio. Cheio de vida e de compreensão. A frieza é o excesso de compreensão. Odeio escrever textos frios.
Estou longe neste momento.
E talvez um dia esteja mais próximo de coisas simples. Como eu sempre gostei.
Preciso de um pouco de silêncio.
Só preciso. De alguma resposta.
Nessas horas as respostas precisam surgir bem à nossa frente. Caso contrário serão ignoradas solenemente. Como ignoro o meu sono, a minha vontade, a minha dor... a minha vida... Eu.
Meus cabelos cresceram... Caíram na pia do banheiro. Estou habitando o ralo.
Ontem choveu... e tomei um banho de chuva. Como quando era criança... E me lavei... Da Augusta à Consolação. Me lavei da Augusta à Consolação. E cheguei em casa tão desconsolado. Minhas lágrimas foram embora com a chuva... Meu texto está sem vida... Seco demais para ser digno de ser escrito... Áspero demais para pertencer a mim. Que sempre tentei ser tão suave. As coisas estão ásperas demais.
Seco... Como o meu copo...
Como o meu corpo... Meu espírito. Esvaído. Consumido. Silenciado.
Agora... Lento.
Mais lento.
Era para ser uma dedicatória...
Virou lamento.
Como tantos lamentos.
Um pouco de silêncio.




A difícil escolha de escrever sobre a saudade.

Em casa... Depois de uma noite agradável. Cinema, pipocas, boa companhia. Cerveja gelada ao lado do computador. Estamos alimentados. Mas o corpo sente falta de algo. Antes de dormir me deparo com o vazio. Falta um cheiro. O incenso não é suficiente para me fazer dormir. Me falta o cheiro da cumplicidade de todas as noites. Da inspiração de todos os dias. Da expiração. Me resta a difícil escolha de falar sobre a saudade. É como se tivessem me tirado algo muito importante. Na verdade me tiraram. Sabe quando falta aquela frase incrível que define absolutamente tudo o que sentimos? Essa é a diferença entre grande e medíocres escritores. O poder do resumo de grandes pensamentos. Não consigo resumir a saudade. Talvez porque a saudade seja algo que nunca se possa resumir porque está carregada de muitas histórias. E, de tão importantes, essas histórias não permitem que sejam resumidas. Eu não permito que elas sejam resumidas. Mais um gole de cerveja... Gelada... Mas a alma ainda está quente. Estamos condenados a saudade. Saudade da infância, daquelas loucuras da adolescência quando acreditávamos que podíamos tudo e um pouco mais. Saudades dos velhos e bons amigos que se perderam ao longo da nossa caminhada. Saudades dos parentes. Saudades do meu avô que foi embora tão cedo e me deixou tantas lembranças... Saudade do Chil... Nome estranho de um grande amigo que hoje nem sequer lembra de quantas vezes discutimos a importância de Platão nas nossas vidas. Saudade seria um vazio? Aquele vazio que temos a certeza que não será mais preenchido nunca mais. Não daquele jeito. Não daquela forma. Saudade é a irmã boa do passado e a irmã má do futuro? Será? Estou sentindo saudades. De tempos que não voltam mais. Não porque não existem mais, mas porque se foram. Não estão mais conosco. E isso dá saudade. Saudade de quando sentava no canto do pátio do San Damiano. Ficava ao longe assistindo o recreio. E tudo parecia que nunca passaria daquelas grades. Depois passei a freqüentar as muretas da escola. Uma grande promoção para o mais mais tímido e reprimido da turma. A mureta continua no mesmo lugar. Mas mesmo que fosse tele transportado para lá não mataria a saudade daquele tempo. A saudade está na distância das coisas que foram feitas e não feitas. Ditas e não ditas... Sentidas e não sentidas. O gole de hoje nunca mais será o mesmo... É o único. Sempre será o único. E isso não é novo. Não há aqui nenhuma constatação brilhante da natureza. Apenas um lamento de saudade. A saudade dói às vezes. É como um sapato apertado. Sempre diz que está lá. E quando a gente insiste em continuar em frente aumenta a cada passo. Até que a gente parar e afrouxar o cadarço. Às vezes sem sucesso. Mas ganhamos um minuto de alívio. Até comprar um sapato novo. Mas sapatos novos também apertam. E eu adoro meus sapatos velhos. São sempre os mais confortáveis. Macios... Acolhedores... Carinhosos com os meus pés... Eu sempre gostei dos meus sapatos velhos... Estavam comigo ao longo da caminhada. Sinto saudade deles. Lembro de um tênis de escola. Não tirava-o dos pés... Até que descolou... Impossível reformá-lo. Bem que tentamos. Mas impossível reformá-lo. A saudade também é como um tênis velho e deformado. Impossível de reformá-la. Se foi e pronto. Precisamos nos conformar. A morte nos trás saudade. E sempre vai trazer. Precisamos nos conformar. Os mortos vivos também nos trazem saudades. E estes são os piores porque não se foram de verdade. Estão por aí respirando o mesmo ar que a gente. O mesmo ar que eu. E agora respiro fundo. Sinto o mesmo ar que você nesse momento. E me sinto próximo. Um pouco mais feliz. Um pouco menos triste. Um pouco menos só. A saudade ocupa a vida dos solitários. Que não sabem como ocupar o tempo que sobra. É uma reunião de passados... Que insistem em fazer parte do presente. É uma festa à fantasia... Uma deliciosa festa à fantasia... Que passa da hora de acabar. E fica chata. Mais um gole. Mais uma música. Alimento bem a minha saudade. Não preciso das fotos antigas. As principais estão aqui na minha mente. A saudade é um grande álbum de fotografias. Em movimento constante. Forma de exibição aleatória. Fora do nosso controle. Sem meias palavras. Viva os saudosos. Eles são felizes porque desistiram de lutar contra essa praga. Eles têm a razão. Estou com saudades. Estou deformado pela saudade. Estou inspirado pela saudade. Tomado pela saudade. Tomando goles de saudade. A saudade embriaga se em excesso. E vicia se usada sem controle. Provoca um torpor incontrolável. Tem efeitos de soro da verdade. Soro da saudade. Estou pronto para dizer como estou movido pela saudade. Quase uma relação de desespero entre mim e a saudade. Meu pequeno apartamento vazio está cheio de saudade. Vou abrir a porta e deixá-los entrar. Vamos dar uma festa para comemorar a existência de todos vocês. Não! Melhor! Vamos comemorar a minha existência. Afinal de contas a saudade é minha. Eu sinto saudades de mim. Daquele menino tímido... Com medo de falar em público... Que acreditava que uma nave espacial o levaria de volta pra casa. Saudade da pureza (não a do Anísio, nem a em forma de grãos). Saudade de um tempo em que acreditava nas coisas. E as coisas acreditavam em mim. A primeira viagem de avião... O primeiro tomate cereja... Roubar balinhas nas Lojas Americanas (quando as balinhas eram vendidas por peso nas Lojas Americanas). Andar de escada rolante (quando a única escada rolante de Goiânia ficava nas Lojas Americanas). Saudade do limão com açúcar que o meu pai me dava depois de tomar a caipirinha... Saudades da mesinha de madeira vermelha... Pés de ferro. Hoje custa uma fortuna. Assim como a minha saudade disso tudo. Saudades do seu Euzébio, meu avô, que me deixou o seu Osmar, meu pai... Que me deixou o sobrenome Silvério, que me deixou um relógio... que não conta mais o tempo dos homens, porque está em outro tempo. Que me ensinou a chorar de verdade quando tinha apenas cinco anos. E quando me mostrou pela primeira vez o que era sentir saudades... Mal sabia eu, que a sentiria tantas outras vezes ao longo da vida. Foi uma boa lição. Saudade da simplicidade de Leopoldo de Bulhões... Nunca dei nada por aquele lugar. Hoje, sinto saudade de tantas coisas. O inocente banho de bacia no chão da cozinha. O medo do banheiro de buraco. O tanque de madeira... Todo coberto pelo lodo... Os pés de mandioca... O milharal... Ah, as pamonhas. Aquele medo terrível de que o meu pai, que ralava o milho, machucasse as mãos. Ralo entre as pernas... Movimentos certeiros. Gente reunida. O barulho do milho passando na lata... O caldo caindo na panela de ferro. A pamonha de doce... Saudades dos cheiros que senti ao longo da vida. E que insistem em aparecer nas horas mais inusitadas. Saudades da Tia Márcia. Que me ensinou a brincadeira do vivo ou morto. E que morreu antes de eu aprender o significado da morte. Saudade do Richardson... Meu primeiro “coleguinha”. Ele tinha uma pinta na testa. Nunca vou esquecer disso. Me ensinou a usar o primeiro computador. O dele. Porque o meu primeiro computador só viria quase vinte e cinco anos depois. Saudades da primeira Patrícia que entrou na minha vida. Evangélica, assistiu Dirty Dancing oito vezes. Era pobre de fazer dó. Mas tinha uma felicidade que só os evangélicos fervorosos conseguem ter. Hoje estou tomado de saudade ao ponto de querer chorar por isso tudo. Saudade de me sentir inteiro. Saudade apenas. Acho que é isso. A saudade é saudável. Nos coloca no eixo novamente. É como uma guia que nos diz o caminho a seguir. Nos faz um rápido relato do que fomos e do que queremos ser. E nos coloca no eixo. É isso. É o objetivo da saudade. Não nos deixar esquecer de quem somos de verdade. Daqueles que amamos de verdade... Dos realmente importantes pra gente. Para o bem ou para o mal. Saudade sem limites. Saudade é saudável. Saudade é saúde... É vida... É sina de vida...


Diário de Bordo nº 05052009

Hoje aterrizamos em um planeta bem diferente. Chamado de Centro de Goiânia. Não foi a primeira vez que passamos por este planetinha único. Mas é sempre uma experiência única ver como esse lugar se movimenta ao longo dos anos. Goiânia é uma cidade planejada por Atílio Correia Lima no final da década de trinta. A maioria dos prédios foi construída no estilo art decó. Prédios pequenos, pouco imponentes, mas de uma riqueza singular. Essas são as luminárias de um prédio do centro chamado Paternon Center. Quer mais?

Nesse passeio contei com a ajuda de uma guia bem experiente. Adrix fez questão de me mostrar alguns cantinhos bem interessantes. E aos poucos fomos descobrindo um pouquinho mais de Goiânia. Lugares novos e lugares não tão novos assim. Aqui Adriana, minha guia, e ao fundo a Avenida Goiás. Restaurada recentemente. E a principal avenida do Centro Histórico. Essa avenida liga o Centro Administrativo a Estação Ferroviária. No início Goiânia era só isso. Hoje tem mais um milhão e trezentos mil habitantes. E durante muito tempo eu fui um deles.

É bom andar por essa cidade. Fiz isso tantas vezes. Mas hoje tem um significado diferente. Ser turista na sua própria cidade. Redescobrir o seus movimentos particulares, as particularidades dos seus moradores, da sua gente. Lugares que foram e ainda são importantes para uma das capitais mais verdes do planeta. Desta vez não passamos por pontos turísticos. Queria absorver a cidade. Aquela que me acolheu durante vinte e nove anos de vida. Aquelas ruas estreitas, sujas, mal cuidadas, mas cheias de histórias. Estava definitivamente na minha cidade, no meu planetinha. Uma viagem no tempo. Jargões são sempre bem vindos para reforçar desabafos. Estar em Goiânia é conhecer um pouco da história do país que cresceu para o centro. É ver o ensaio do que acabou na Capital Federal, Brasília. Antes de Juscelino e o Distrito Federal, tivemos Pedro Ludovico e a transferência da capital da Cidade de Goiás para a planejada Goiânia. Tudo começou aqui. Com o tamanho que os Goianos poderiam dar. Com aquele tamanho caipira de quem já estava cansado de mandar seu ouro para outros estados. E por falar nisso, aí está ele: o Anhanguera. Na praça do Bandeirante. A praça não existe mais. Mas ainda é ponto de referência no centro da cidade. O Bandeirante está lá. Ganhou um pedestal e fica de olho no movimento. Símbolo do explorador, conquistador, usurpador... E hoje está no centro da Capital. Engraçado isso. Mas ajuda a explicar um pouco da nossa cultura de oprimido. Talvez por isso o que vem de fora, para nós sempre chamou mais a a tenção. Talvez por isso, muitos tiveram que sair daqui para depois voltar e ganhar um pouco de visibilidade. Quem vem da 'capitar' é sempre melhor.
Bobagem histórica. Mal sabem eles que esse lugar é cheio de delícias. Me alegro de conhecer pessoas que reconhecem o valor dessa terrinha. Desse planetinha perdido no planalto central. Seus cantores à moda de viola. Seus artistas estranhos e malucos, suas poetisas, suas casas antigas... Seus prazeres gastronômicos. Uma delícia. Uma homenagem.



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Sobre Bananas e Belezuras

É engraçado, mas alguns temas são difíceis de escrever. Sobre Bananas e Belezuras é uma tentativa. A primeira tentativa de uma série. Desde que cheguei a Goiânia tenho sido acompanhado por uma deliciosa criatura. E essa é uma homenagem. Às vezes quando estamos juntos parecemos duas pessoas normais... Por pouco tempo...

Belezura me acompanha nessa 'longa estrada da vida'. Uma relação estranha, mas interessante. Complexa demais para ser resumida num post. Em apenas um post. Já nos separamos algumas vezes. Separações mesmo. E depois voltamos a nos encontrar. E encontros são sempre bem vindos. Ela pisa na bola... Deixa de cumprir com alguns acordos, mas na hora 'h' está do meu lado. E aí tudo volta a ficar tranquilo. Belezura é uma referência. A quem eu faço uma deferência. A ela ensinei algumas coisas. Como o significado da palavra PROLIXO. E tantos outros significados. E ela me ensinou que vale à pena ensinar. E acabei aprendendo.

Belezura tem um olhar diferente sobre as coisas. Meio infantil, meio PETER PAN às avessas. Às vezes acho que ela não olha nada. Engata a primeira no seu gol quadrado e vai embora. Segue em disparada para a terra do nunca. Do nunca mais vou passar por isso novamente... Do nunca mais vão me fazer de idiota... Do nunca vou precisar me humilhar novamente... Do nunca vão conseguir me deixar triste...

É mas Belezura chora. E chorou algumas raras vezes comigo. E mais uma vez eu aprendi. Mas ela mais sorri do que chora. Apesar de às vezes eu achar que ela mais chora do que sorri. Seus delicados olhos grandes não deixam ela nos enganar. É difícil aprender a linguagem deles, mas quando se pega o jeito a coisa deslancha. Belezura é uma companheira. Das boas. Das grandes. Pra qualquer hora. Companheira de boteco. De cerveja, de neuras, de desabafos, de aventuras... E esse era um bom momento para uma pequena homenagem. Um dia escrevo mais.
Ah, porque Banana? Foi Belezura quem me mostrou pela primeira vez como eu era um BANANA na vida. Amadureci... E resolvei escrever sobre isso.
BA-NA-NAS-E-BE-LE-ZU-RAS



Oração de um bêbado...

Estou pronto...
Nunca estive tão pronto como agora.
Pode vir me buscar.
Venha me buscar...
Estou pronto...Perdoe-me pelo que não consegui beber até agora.
Pelas latinhas que congelaram no congelador.
Pelas cervejas que esquentaram no meu copo.
Não fui rápido demais para saciá-las.
E por isso não fui digno.
Estou pronto...
Pode vir me buscar...
Me leve...
De preferência para onde tenha uma boa música...
Uma boa 'vibe'...
Quanto àquela parte dos inimigos, estou tranquilo... arrume uma cadeira para eles também...
Longe de mim, de preferência.
Mas não os negarei o último gole...
Até o brinde...
Até que a morte nos separe...
Até que o celular nos desperte no dia seguinte.
Até que os nossos segredos mais íntimos sejam trocados por uma bem gelada.
Até que o soluço nos interrompa o discurso...
Até que que o desabafo...
Até que a conversa...
Até que o bafo...
E no fim, afaste de mim a ressaca.
A Neusa (dina).
E me mantenha pronto para a próxima...

Saúde...



Uma reta...

Dizem que o que liga dois pontos é uma reta. Taí. Somos uma reta.
Ela, a primeira de todas. Eu, o que escapuliu e veio por último.
Ela, a que sentiu na pele as agruras da vida. Eu, que senti as agruras como se fosse uma criança que não entende bem da vida.
Ela, uma inspiração. Eu, uma conexão.
Entre ela e o mundo.
Ela, minha irmã mais velha: Maria Antonieta... Nome imponente. Assim como ela. Uma leonina de fazer inveja.
Eu, um reflexo da reta que liga esses dois pontos. Um aquariano sem juba.
Ela, escreveu isso (leiam com atenção):

''Desconheço.
Ainda vejo o seu rosto
em todas as peles;
ainda busco teus olhos nos olhos alheios

algo não sai do meu pensamento
por quê?
Fixação tão intensa por quem não conheço.
Não me pertence? Obsessão ! paixão ! tédio !
Você é minha dieta, de paixão e gozo
te pego no vácuo.

Mil BJS....

Obs: Antonieta..

Eu, decidi publicar.
E fazer uma homenagem.


Beleza Roubada

Avenida Consolação. Dez horas da noite.
Entrei para as estatísticas da maior cidade da América Latina. Três homens me cercaram e anunciaram o assalto. Inacreditável que aquilo estivesse acontecendo comigo. Mais inacreditável foi a minha reação. Eu reagi. E fui contra tudo o que dizem sobre reação e assassinato. Eu simplesmente reagi. Segurei as mãos de um dos bandidos. Resisti a ordem para entregar tudo o que eu tinha. Gritei que não entregaria nada. Gritei e segurei as mãos dele que queriam me revistar. Não me lembro de muitos detalhes. Acho que é uma coisa comum quando somos pegos de surpresa. Me lembro que por alguns instantes pensei que estava cometendo uma loucura. Mas não conseguia fazer outra coisa. A não ser me defender e defender tudo o que eu tinha. Três homens mal vestidos, definitivamente principiantes na arte de roubar e de amedrontar as vítimas. Éramos todos principiantes.
Ali, no meio da Consolação tive minha primeira lição de violência numa cidade grande. Senti na pele a junção de dois mundos tão distantes. Quando o não não significa nada. Quando meus limites não significam nada. Quando a miséria agride a classe média. Quando o pequeno burguês se sente vítima de sua passividade diante das coisas.
Fui atacado e assaltado praticamente na esquina da minha casa. Por três homens, jovens moradores de rua. Não me lembro de ter tido medo. Me lembro que não queria que me levassem a privacidade. Mas essa já perdemos há muito tempo. Não queria que estuprassem meu espaço. Mas já fomos arrombados há muito tempo. Não queria que tivessem me visto. Mas somos constantemente perseguidos. Alvos constantes perambulando no meio das ruas.
Essa noite levaram coisas importantes de mim. E pude sentir uma pequena parte do que pessoas comuns sentem nas suas tragédias pessoais. Me lembro das vítimas da enchente em Belém. A água chegou sem avisar e arrastou o que encontrou pela frente. Eles perderam tudo o que tinham. Casa, móveis, roupas e um pouco da dignidade. Me lembro dos parentes da vítimas do voo 447. Surpreendidos por uma fatalidade. Ninguém esperava que algo parecido pudesse acontecer. E as fatalidades sempre são assim.
Enquanto segurava uma das mãos do assaltante, por um instante, pensei que estava cometendo uma loucura. Deveria entregar tudo o que tinha


Amigoo!! Obrigado pelo carinho!! Que chato essa história do roubo hein?! Bom mas seguem meus contatos: celular: 62-9908-5478/ 3286-1727.
Abração










A arte da Fraqueza

Lá se vai mais um fim de semana. Mais um fim de semana de plantão. Quarenta e seis horas dedicadas ao trabalho. Poucas horas de sono. Muito tempo dedicados aos desfechos de três reportagens.
O cão viajante – um pequeno vira-lata que percorreu trezentos quilômetros escondido na suspensão de um carro. Foi parar em Curitiba e ganhou um dono, um nome e até uma roupa de frio.
A última reportagem da série Bangladesh – oriente desconhecido. A saga do Raul numa das terras mais populosas e pobres do planeta.
E pra fechar, a reportagem da semana: execuções. Uma radiografia de um crime. Sobre o esquema montado para assassinar uma psicóloga de São Paulo.
Três grandes reportagens. Editadas com dedicação e uma característica: objetividade.
A mesma que falta quando passo o meu crachá na catraca e saio do universo da imagem e do som. Como num passe de mágica as decisões se transformam em algo tão complicado pra mim. Os caminhos escolhidos são sempre os mais longos. E se tiver mais curvas melhor. Às vezes gostaria de conduzir a minha vida como edito uma reportagem. Começo pelo meio. Deixo o início da história por último. Só consigo abrir o texto depois que vejo a história formada na minha cabeça. Aí sim a frase de abertura surge. Imponente. Decidida. Objetiva. Consigo ver quando o VT está arrastado. Cansativo. E por inúmeras vezes deixo que a minha vida se arraste. Que o IBOPE de minha existência despenque. Escolho cada imagem. Cada cena como se fosse a principal imagem da matéria. E não sou capaz de escolher uma camiseta para ir à reunião de terça feira. Prefiro sempre a preta do Joy Division.
Consigo controlar editores de imagem fujões e reclamões. Mas não sei administrar as pessoas que estão ao meu lado quando saio da emissora. Escrevo um texto em questão de horas. Fecho uma história numa tarde. E perco horas decidindo o que fazer no meu único dia de folga da semana. Que agonia. Que contradição.
E melhor do que ninguém sei que contradições são o melhor molho das reportagens. Mas elas cansam. Quem aguenta a frase: uma terra de contradições. E uma pessoa de contradições? É pior ainda. Estou cansado. De desperdiçar toda a minha objetividade numa ilha de edição. E toda a minha arte no mundo real. Me irrita ser controlado no pouco tempo livre que me resta. Mas sem o controle sei que vou me perder na primeira esquina. Por isso me deixem sempre só. Assim só eu saberei das minhas mancadas. Prefiro que mexam no meu texto. Mudem completamente a cara dele, mas me deixem só nas minha mancadas. Reescrever minhas ações é bem mais complicado. Hoje estou vazio. Sem almoço, sem lanche e sem janta. Devorei uma caixa de BIZ e agora uma lata de cerveja. Talvez duas. A barba por fazer. A roupa larga. Uma blusa sobre a outra. Queijo em rodela para matar a fome. Fome de quê? Minhas energias foram gastar com um cachorro que fugiu de casa... E achou um dono. Com um mundo que provavelmente vai ficar debaixo d água por causa do aquecimento global e com um crime que chocou meia dúzia de moradores da Vila Madalena e destruiu uma família inteira. Eles não são pequenos. Mas também não podem se tornar maiores do que eu. E hoje me senti pequeno demais.
Meus ombros ficaram pesados. E a neblina invadiu a minha casa. Minha coluna se curvou. E tudo ficou sem graça. Velhos chavões me visitaram. E uma lenda se fez viva. A lerdeza da vida real bateu em minha porta. Entreguei meu crachá para a objetividade e me deixei invadir pelas dúvidas. Nessas horas me lembro de uma cena. Importante pra mim porque me torna quase um artista. Ainda em Goiânia, editando uma das centenas de matérias sobre a Dona Vilma – aquela que roubou o Pedrinho da maternidade e o criou como filho. Cinquenta fitas espalhadas pela ilha de edição. E eu sabia exatamente o que havia em cada uma delas. Estavam comigo havia meses. Eras as coisas mais importantes pra mim havia meses. Minha chefe entra na ilha e me vê escolhendo fita por fita. Parecia inacreditável. Cada cena. Cada rosto daquela mulher exagerada. Estavam todos ali. Nem mesmo eu acreditava no que estava fazendo. Quem me dera poder fazer isso com a minha própria vida. Saber exatamente onde estão as coisas que eu procuro. E num correr de fita achar o que realmente me interessa. Estou cansado de tirar das minhas dúvidas as certezas que vocês assistem. Gostaria de um pouco mais de certeza nas minhas próprias dúvidas. Acho que até aceitaria ser uma anta no trabalho e ágil dentro do meu mundinho. Hoje rodei em círculos. Briguei por três reportagens. Que foram ao ar e em minutos caíram no esquecimento. E fora dali coisas muito reais batiam a minha porta. Se eu pudesse editar a minha vida? Cortaria muitos excessos. Frases de efeito demais. Chavões que não querem dizer nada. Passagens que me levam de nada a lugar algum. Imagens amareladas de mim mesmo... Desfocadas.
E me vem a imagem do maldito cachorro que viajou trezentos quilômetros e achou um dono. Das pessoas em Bangladesh que vivem comendo arroz e tomando chá. E do marido que há oito meses espera, pacientemente a polícia de São Paulo descobrir que mandou matar a mulher. Estou cansado de ter coragem suficiente para contar tantas atrocidades e de ser covarde o suficiente para ignorar a minha história.
Se eu pudesse editar a minha vida? Começaria cortando as longas entrevistas de especialistas que falam sobre mim. Tiraria todas as artes gráficas que tentam explicar como tudo aconteceu. Não me preocuparia com o contraponto. E deixaria várias coisas serem ditas sem checar a procedência antes. Por final, reescreveria algumas coisas ao meu gosto.
E no final deixaria de ser triste como a família destruída por uma execução. Faminto como os bangles que podem desaparecer do mapa... E seria livre como o FOX. O vira lata que fugiu de casa, ganhou um dono e um agasalho.

08 dezembro 2009

Mensagem ao vento...

Ontem à noite meu celular tocou. Aquele som que os celulares fazem quando uma mensagem chega. Uma amiga me mandou algo que precisava compartilhar com o universo... Um carinho em forma de palavras...
Segue:
"Você já parou pra pensar que a sua vida, os seus encontros, as suas escolhas, enfim, os seus passos, tudo isso está recheado de boas histórias? E que os trechos tumultuados são apenas aquela pitada extra de tempero e que ás vezes descompassa a receita? Ou não....afinal, pode até aguçar o paladar para novos sabores!!!!!
Pense nisso!"

E pensei. E foi incrível.
Espero que você também pense nisso.

03 dezembro 2009

A casa dos espelhos...




Passo a passo. Era noite.
O som da cidade ficava cada vez mais distante.
Os moradores de rua. E a rua sem os seus moradores. Luzes se apagando.
Pessoas se recolhendo.
Boêmios...
Ladrões e putas.
A cidade seguia a sua movimentação. Estranha, mas compassada.
Os prédios, em sua maioria art decó, emolduravam o meu caminho.
Sacadas redondas.
Linhas retas passeando pelas paredes claras...
Beges.
Azuis, verdes...
Rachaduras e telhados velhos.
O tempo estava presente em cada esquina. Foi assim até chegar à casa dos espelhos. E, por um instante o medo me acompanhou. Meu reflexo não era bem o que esperava encontrar atrás daquela porta.
E durante toda a noite foi o que mais vi: minha imagem refletida.
Era eu que andava por aquele pequeno espaço.
E como num circo podia ver variações de uma mesma imagem.
Baixo...
Alto demais...
Magro demais...
Gordo demais.
Ansioso demais.
Medroso demais.
Demasiadamente pequeno.
Grandiosamente...
Os espelhos me sufocaram. E me alimentaram com um certo ar de mim mesmo.
Descobri que a casa da luz vermelha tem poucos espelhos.
E um pouco de espelho não faz mal a ninguém...